terça-feira, 26 de março de 2013


Cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, nasceu em Marktl am Inn, diocese de Passau (Alemanha) em 16 de Abril de 1927 (Sábado Santo), e foi baptizado no mesmo dia. Seu pai, um oficial de polícia, veio de uma antiga família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições económicas. Sua mãe era filha de artesãos de Rimsting, no Lago Chiem, e antes de casar trabalhara como cozinheira em vários hotéis.
Ele passou sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da fronteira com a Áustria, a trinta quilómetros de Salzburgo. Neste contexto, ele próprio definido como "mozartiano», que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural.
O período da sua juventude não foi fácil. A fé ea educação da família prepararam-no para enfrentar a dura experiência daqueles tempos, em que o regime nazista mantinha um clima de grande hostilidade contra a Igreja Católica. O jovem Joseph viu os nazistas açoitarem o pároco antes da celebração da Santa Missa
Precisamente nesta complexa situação, descobriu a beleza ea verdade da fé em Cristo, pois foi fundamental para a conduta da sua família, que sempre deu um claro testemunho de bondade e esperança, radicada numa conscienciosa pertença à Igreja.
Nos últimos meses da guerra, ele foi matriculado em uma auxiliar anti-aérea.
De 1946 a 1951, ele estudou filosofia e teologia na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, e na Universidade de Munique, na Baviera.
Ele foi ordenado sacerdote em 29 de junho de 1951.
Um ano depois, começou a ensinar na Escola Superior de Freising.
Em 1953, doutorou-se em teologia com a tese «Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho". Quatro anos mais tarde, sob a direcção do conhecido professor de teologia fundamental Gottlieb Söhngen, conseguiu a habilitação para a docência com uma dissertação sobre «A teologia da história em São Boaventura".
Depois de professor de teologia dogmática e fundamental na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, continuou seu ensino em Bonn, de 1959 a 1963, em Muñiste, de 1963 a 1966, e em Tübingen 1966-1969. No último ano, ele se tornou professor de dogmática e história do dogma na Universidade de Ratisbona, onde ocupou também o cargo de Vice-Reitor da Universidade.
De 1962 a 1965, prestou um notável contributo ao Concílio Vaticano II como «perito»; participou como consultor teológico do Cardeal Joseph Frings, Arcebispo de Colónia.
A sua intensa actividade científica levou-o a desempenhar importantes cargos ao serviço da Conferência Episcopal Alemã e na Comissão Teológica Internacional.
Em 1972, juntamente com Hans Urs von Balthasar, Henri de Lubac e outros grandes teólogos, fundou a revista teológica "Communio".
A 25 de marco de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo de München e Freising. Em 28 de maio, ele recebeu a ordenação episcopal. Foi o primeiro sacerdote diocesano, depois de 80 anos, que assumiu o governo pastoral da grande arquidiocese bávara. Ele escolheu como lema episcopal: «Colaborador. da verdade "e ele explicou:" Por um lado eu vi como a relação entre a tarefa anterior de professor ea minha nova missão. Embora de formas diferentes, o que foi e permaneceu, foi seguir a verdade, estar ao seu serviço. E, por outro, escolhi este lema porque, no mundo de hoje, o tema da verdade omite-se quase totalmente, como ele é apresentado como algo demasiado grande para o homem, e ainda, se a verdade está faltando tudo se desmorona ".
Paulo VI criou-o Cardeal, do título presbiteral de "Nossa Senhora da Consolação no Tiburtino", no Consistório de 27 de Junho do mesmo ano.
Em 1978, o Cardeal Ratzinger participou do Conclave, realizada 25-26 de Agosto, que elegeu João Paulo I, que nomeou-o seu Enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional, realizada em Guayaquil (Equador) de 16 a 24 de Setembro. Em outubro do mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II.
Foi Relator na V Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos de 1980, sobre o tema «Missão da família cristã no mundo contemporâneo", e foi Presidente Delegado da VI Assembleia Geral Ordinária de 1983, sobre «A reconciliação ea penitência na missão da Igreja ".
João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981. Em 15 de Fevereiro de 1982, renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese de Munique e Freising em 5 de abril de 1993, elevou-o à Ordem dos Bispos, atribuindo a suburbicária de Velletri-Segni.
Ele era presidente da Comissão para a preparação do Catecismo da Igreja Católica, que, após seis anos de trabalho (1986-1992) apresentou o novo Catecismo ao Papa.
João Paulo II, em 6 de novembro de 1998, aprovou a eleição do Cardeal Ratzinger para Vice-Decano do Colégio Cardinalício, realizada pelos Cardeais da Ordem dos Bispos. E em 30 de novembro de 2002, aprovou a sua eleição para Decano; com este cargo, foi-lhe confiada, a suburbicária de Óstia.
Em 1999, foi como Enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha, que tiveram lugar em 3 de janeiro.
De 13 de novembro de 2000 foi um acadêmico honorário da Academia Pontifícia das Ciências.
Na Cúria Romana, foi membro do Conselho da Secretaria de Estado para as Relações com os Estados, das Congregações para as Igrejas Orientais, para o Culto Divino ea Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para a Evangelização dos Povos , para a Educação Católica, para o Clero, e para as Causas dos Santos dos Conselhos Pontifícios para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e para a Cultura, o Supremo Tribunal da Signatura Apostólica, e das Comissões Pontifícias para a América Latina, «Ecclesia Dei», para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canônico para a revisão do Código de Direito Canônico Oriental.
Entre as suas numerosas publicações de maneira destacada em sua "Introdução ao Cristianismo", coleção de lições universitárias publicadas em 1968 sobre a profissão de fé apostólica, "Palavra na Igreja" (1973), uma antologia de ensaios, homilias e meditações, dedicadas à ministério.
Foi veiculada discurso para a Academia da Baviera em "Por que eu ainda estou na Igreja", em que, com a sua habitual clareza, afirmou: "Só a Igreja pode ser um cristão e não fora da Igreja. "
Suas publicações estão espalhados ao longo dos anos e constituem um ponto de referência para muitas pessoas, especialmente para aqueles que queriam aprofundar o estudo da teologia. Em 1985 publicou o livro-entrevista "O Relatório Ratzinger" e, em 1996, «O sal da terra". Além disso, por ocasião do seu 70 º aniversário, publicou o livro: "Na escola da verdade", em que vários autores sobre diferentes aspectos de sua personalidade e de seu trabalho.
Ele recebeu doutorados numerosos "honoris causa" pela Faculdade de St. Thomas em St. Paul (Minnesota, EUA), em 1984, pela Universidade Católica de Eichstätt (Alemanha), em 1985, pela Universidade Católica de Lima (Peru ), em 1986, pela Universidade Católica de Lublin (Polónia), em 1988, pela Universidade de Navarra (Pamplona, ​​Espanha), em 1998, por Maria Santissima Assunta Universidade Livre (LUMSA) (Roma), em 1999, para Faculdade de Teologia da Universidade de Wroclaw (Polónia) no ano 2000.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Você é teimoso ou persistente?



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É fácil identificar a diferença entre os dois
O teimoso é fechado às opiniões alheias, é rebelde e intransigente, faz tudo contrário ao que lhe é pedido. Por vezes, chega a ser avesso, simplesmente pelo prazer de contrariar. A Palavra de Deus nos apresentaos fariseus e escribas no tempo de Jesus como exemplo de teimosia.

Já o persistente tem a mente aberta às visões diferentes, por isso mesmo tem mais propriedade e sensibilidade para crer em sua intuição. Ele acata ordens, age com humildade e, quando não prevalece sua "certeza", confia que as coisas se resolverão no tempo de Deus, e não segundo sua urgência. A tenacidade que ele manifesta não é sinal de obediência cega e irracional, mas fruto da esperança evangélica, pois, ele acredita que a verdade prevalecerá.

Realmente não é fácil nos dobrarmos a um direcionamento que, a princípio, nos parece absurdo e infundado, como aquelas ordens que recebemos e sabemos que não tratam da verdade, mas sim da vontade, do bel-prazer de quem detém o poder.

A teimosia leva à incoerência e ao descrédito; já a persistência gera constância e solidez nos propósitos que trazemos no coração. Se você tem razão, se o que faz é, 
verdadeiramente, de qualidade, não se preocupe, porque, em algum momento, você será justificado, pois tudo provém de Deus e “Deus é verdade”. (cf. Catecismo da Igreja Católica nº. 214)
São Francisco de Assis é um grande exemplo de persistência. Em atenção à Palavra do Senhor, ele corrigiu os erros de muitos religiosos de sua época, não por força de argumentos ou de acusações, mas por seus atos coerentes, por meio de uma fidelidade inabalavél a Deus e à Igreja. Sua convicção do que deveria ser mudado foi combustível, primeiramente, de seu próprio carisma de vida: “viver a radicalidade da pobreza”. Assim, por meio de seu testemunho, demonstrou que as igrejas deveriam, urgentemente, rever muitos de seus conceitos aplicados naquele tempo.

Entretanto, diante das dificuldades e dos julgamentos, São Francisco podeira ter virado as costas para a Igreja Católica e fundar sua própria, como fizeram tantas pessoas ao longo dos séculos. Porém, preferiu se manter obediente, pois, se assim procedesse, estaria acatando o pedido do Senhor: “Francisco, reconstrua a minha Igreja”.

“A Igreja não precisa de reformadores, mas de santos”, 
afirmava o saudoso beato Papa João Paulo II. Desta forma, para vivermos a vontade de Deus devemos ter persistência, "esperança", principalmente nos relacionamentos, no trabalho, na escola... Enfim, em todos os momentos de nossa vida.

Possamos assim, mesmo diante das injustiças ou simplesmente do não reconhecimento dos dons que trazemos, sermos fiéis àquilo que Deus nos pede ou confia a nós. 

Acredite que a intuição e o talento que lhe são dados pelo Senhor terão mérito um dia. Mas para isso é preciso ser persistente, mas não teimoso!

domingo, 24 de março de 2013

Qual o sonho de Deus para mim?



Não tenha medo de dar um sim a Deus

Estamos no mês de agosto, tempo em que a Igreja no Brasil celebra as vocações. Veremos, ao longo destes dias, que a liturgia tratará, em cada uma das quatro semanas, o despertar e a reflexão sobre os chamados ao sacerdócio, ao matrimônio, a vida religiosa e do leigo consagrado, respectivamente.

A palavra "vocação" significa "chamado". O que denota uma ação de alguém que chama e alguém que é chamado. Toda vocação sempre é iniciativa de Deus. “Não fostes vós que me escolhestes mas eu vos escolhi” (Jo 15,16). O Senhor, não só recruta como também capacita seu escolhido. “Não deverás temê-los, porque estarei contigo para livrar-te; Eis que coloco minhas palavras nos teus lábios” (Jr 1, 8.9).

O vocacionado é, então, alguém escolhido por Deus
, que porta um carisma, uma graça particular; é um agente do sobrenatural, aquele que traz em si algo específico para uma localidade e um tempo. Mas todos esses dons e a eficácia sobrenatural estarão submetidos à humanidade dessa pessoa, ou seja, aos seus traços e habilidades naturais e psicológicos. (cf. Rm 1,20). O dom sobrenatural supera a humanidade, mas o jeito, o temperamento, as habilidades naturais, o conhecimento e a inteligência da pessoa são as bases de suporte para sua missão.
Por isso é muito importante que, no processo de ir se reconhecendo enquanto pessoa, em sua humanidade e atributos que o Altíssimo lhe deu, vá também desvendando o motivo para o qual Deus a chamou, onde e no que, o Senhor quer que ele desenvolva seus talentos. Qual é o fundamento de sua vocação. Para entendermos melhor, tomamos o exemplo do apóstolo Paulo, do nível de entendimento e profundidade que tinha a respeito de si e de sua missão. Ele cita quatro pontos que também precisamos saber. Em Rm 15,16-20 vemos:
Identidade - Quem ele é, sob a ótica de Deus: "ministro de Jesus Cristo entre os pagãos, exercendo a função sagrada do Evangelho de Deus". Este é o primeiro chamado.

Finalidade da sua missão: "levar os pagãos a aceitar o Evangelho pela Palavra e pela ação".

Forma que se desenvolverá sua missão: "pelo poder dos milagres e prodígios, pela virtude do Espírito. De maneira que tenho divulgado o Evangelho de Cristo".

Quais são os dons e habilidades que o Senhor infundiu nele para desempenhar a missão?

Campo de atuação: “desde Jerusalém e suas terras vizinhas, tendo o cuidado de anunciar o Evangelho somente onde o Cristo ainda não era conhecido.”

Todos esses pontos vão sendo revelados conforme nos colocamos a caminho, pois ser vocacionado requer que se dê um sim diariamente. Paulo foi percebendo, aos poucos, estas características, nos fatos de sua vida e ministério. Talvez não estejamos ainda preparados para saber de pronto, tudo o que virá, mas com certeza Deus tem o melhor para nós. (cf. Rm 8,28). Nisso ficamos dependentes do amor do Altíssimo. O maior interessado em fazer cumprir uma vocação é o próprio Senhor, e Ele revelará tudo a Seu tempo: "Porque o Senhor Javé nada faz sem revelar seu segredo aos profetas, seus servos" (cf. Am 3,7).

Muitos daqueles que foram chamados, até se assustaram num primeiro momento, indagando: “Como acontecerá isso?” (Lc 1,34); outros alegaram “não sei falar” (Jr 1,6) ou "tenho a boca e a língua pesadas" (Ex 4,10), ainda "eu não passo de um adolescente" (I Rs 3,7), prova que, nessa hora, o importante é corresponder e acreditar que Deus proverá.

É na iniciativa de Deus, nas Suas Palavras e ações e na história pessoal que identificamos o carisma, o chamado e tudo o que irá comportar a missão. Ainda que, estes pontos devam ser refletidos não somente pela pessoa - ser individual - , toda instituição, paróquia, grupo de oração, congregação e comunidade também possuem um específico. 

sábado, 23 de março de 2013

Descobrindo a beleza da vida



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A felicidade se esconde na simplicidade

Os conceitos sobre beleza e felicidade variam muito de acordo com a maneira que cada pessoa vê a vida ou do momento que ela está vivendo. Basta observar quem está apaixonado, pois tudo fica lindo e vibrante ao seu redor. As mesmas paisagens adquirem um colorido diferente e o simples cantar de um pássaro tem um novo sentido.
Concordo com quem defende que a beleza da vida está escondida nas coisas simples, descomplicadas. Normalmente, as pessoas mais simples descobrem isso no dia a dia e são felizes com o que tem e onde estão.
Há quem diga ainda que as coisas mais bonitas da vida vêm do interior de cada um. As palavras sinceras e significativas, o sorriso espontâneo, o brilho dos olhos.
E ainda há quem diga que bonito mesmo é um dia de sol depois da noite chuvosa ou as noites enluaradas de verão, quando quase todos passeiam e se divertem. Bonito é procurar estrelas no céu e dá-las de presente a um amigo, namorado, filho, neto. É brincar com um simples raio de sol que fende a janela ou atravessa a fresta no telhado, enchendo de alegria a nossa vida. Aliás, às vezes, deixamos de prestar atenção no próprio sol e admirar sua beleza, mas um raio de sol que insiste em vibrar, não há quem não o veja, não se encante e brinque com ele. Isso é belo.
Bonito é chorar quando sentir vontade e deixar as lágrimas rolarem sem vergonha ou medo de críticas. É gostar da vida e deixar-se embalar por um sonho ainda que este nunca deixe de ser só um sonho. É ver a realidade do hoje sem nunca ser extremista e acreditar na beleza de todos os acontecimentos; vendo neles as marcas do Autor da vida. É continuarmos sendo gente em qualquer situação, também nos momentos difíceis - principalmente nestes -, e ser quem somos, vivendo bem todos os dias desta bonita vida que temos.
Resolvi escrever, pois esta é também uma forma de eternizar a beleza das descobertas. Tomara que a leitura deste texto desperte em você o gosto e o prazer de viver.
O fato é que por trás de cada acontecimento, por mais simples que seja, esconde-se a beleza e a preciosidade da arte de viver.
“Viver e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz...
Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será
Mais isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita.” (Gonzaguinha)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Onde está o teu tesouro?



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O cristão não deve colocar sua segurança nos bens que possui

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano, “Economia e Vida”, e seu lema, “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24) tem implicações claras para a ética social. O amor exagerado ao dinheiro está na raiz de injustiças sociais, misérias, desonestidades, violências e insensibilidades diante dos sofrimentos do próximo, degrado ambiental e morte; por isso, o apelo à conversão quaresmal tem fortes implicações para o nosso comportamento social. Nossa ação de discípulos de Jesus Cristo deverá ajudar a marcar as relações econômicas com a ética da solidariedade e da fraternidade, em vez da lógica do lucro ávido; a busca esforçada do bem comum deve tomar o lugar da afirmação individualista do bem pessoal.
O tema da Campanha, porém, também traz à nossa reflexão uma questão que nunca deve ser esquecida: em que consiste o verdadeiro bem do homem? Entre os muitos bens acessíveis e legitimamente desfrutáveis, algum é o bem supremo que não poderá ser trocado por nenhum outro? Esta questão, que tem implicações fundamentais para a vida pessoal e a fé em Deus, perpassa toda a Bíblia e merece mais de uma observação de Jesus nos Evangelhos. A pensar bem, a questão também é posta por quase todas as religiões que identificam, geralmente, no apego às riquezas deste mundo um perigo para a fé em Deus; é verdade que alguma forma de religiosidade também pretende colocar Deus a serviço da aquisição de bens, através de certa “teologia da prosperidade”; mas tenhamos a certeza disso: usar Deus para fazer dinheiro ou para prometer bens aos outros é, claramente, desrespeitoso e blasfemo em relação a Deus.
A palavra de Jesus – “não podeis servir a Deus e ao dinheiro” faz referência direta ao primeiro mandamento da Lei de Deus: “Não terás outros deuses fora de mim; amarás o Senhor, teu Deus, e somente a ele servirás”. Servir ao dinheiro é colocá-lo no lugar de Deus, passando a dar-lhe mais atenção que ao próprio Deus; e o dinheiro é transformado em ídolo. Ainda no sermão da montanha, Jesus ensina os discípulos a serem sábios durante a vida e a buscarem tesouros verdadeiros, e não aparentes: “Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Onde está teu tesouro, aí também está teu coração” (Mt 6, 19-21).
O cristão e toda pessoa de bom senso não deve colocar sua segurança nos bens que possui. Jesus adverte contra todo tipo de ganância, que é a busca ávida dos bens; e conta a parábola daquele homem rico, que fez uma colheita muito abundante e pensou: “agora posso ficar tranquilo, tenho reservas para muitos anos e vou gozar a vida...” E Jesus diz que aquele homem foi “insensato”, ou seja, sem juízo: “naquela mesma noite ele morreu; e toda a riqueza que ajuntou, para quem ficou? Coisa semelhante acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não se torna rico para Deus” (cf Lc 12, 13,21).
Também o sábio do Antigo Testamento, que avaliava todas as coisas a partir do horizonte de sua fé e confiança em Deus, já advertia contra a ilusão das riquezas: “Por que temer os que confiam nas riquezas e se gloriam da abundância de seus bens? Ninguém se livra da morte por dinheiro, nem pode pagar a Deus o seu resgate; por nenhum preço dá para livrar-se da morte e por nenhuma riqueza poderá o homem comprar-se uma vida sem limites, ou assegurar para si uma existência imortal; morrem os sábios e os ricos igualmente; morrem os loucos e também os insensatos; e todos terão por casa uma sepultura...” (cf Sl 48 (49), 6-12). Nada se leva deste mundo, tudo se deixa para trás, a não ser os “tesouros” acumulados no céu durante esta vida.
Naturalmente, o problema não está nos bens, enquanto tais; a visão de fé sobre a vida nos faz acolher e apreciar, com simplicidade e gratidão a Deus, os bens colocados à nossa disposição pela natureza, ou aqueles conseguidos através do trabalho honesto. O problema, de um lado, é saber se a posse dos bens foi legítima e não lesou o direito e a dignidade de ninguém. Por outro lado, importa ver nossa atitude em relação aos bens: se eles se tornam o valor supremo de nossa vida e, por eles, somos capazes de sacrificar qualquer outro bem, quer dizer que eles tomaram conta de nossa vida e passamos nós a ser servidores deles, em vez de estarem eles a nosso serviço. Aqui começa a idolatria dos bens, pois o próprio Deus, sua lei e seus mandamentos, ficam em segundo plano diante das “exigências” desse ídolo. Sem falar dos irmãos, que se tornam vítimas nessa idolatria...
Por isso, a Campanha da Fraternidade nos faz rever nossas atitudes em relação ao dinheiro e aos bens deste mundo; que eles sirvam à nossa vida e ao bem comum, para conviver em fraterna solidariedade com os outros. Isso requer conversão contínua.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Quaresma, tempo de descobrir que o amor é possível



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O pecado é o maior obstáculo para o amor

Em poucos dias, na Quarta-feira de Cinzas, começaremos um período litúrgico importante da nossa fé católica: a Quaresma. O tempo quaresmal, eminentemente penitencial, em preparação para a Páscoa, é o propício momento em que todos nós, fiéis batizados, somos convidados a intensificar a vida de oração, penitência e caridade, com realce especial ao jejum e à abstinência. Contudo, só se compreende a Quaresma por intermédio do olhar de um Deus, que se encarna, morre e ressuscita por amor a cada um de nós. Isso mesmo, Deus mergulha na epopeia e tragédia da vida humana para nos resgatar das correntes do pecado e dar-nos a vida eterna.
A Quaresma está intimamente conectada com o desejo de felicidade e infinito, latentes em cada coração humano. Sem ela não se entende o ser cristão, sem ela não se entendem os mistérios da indigência e da grandeza humana. Constata-se por muitos espaços da vida humana um mar de tristezas e frustrações. A depressão, segundo dizem, é o mal de nosso século. Nunca sentimos tanta falta de infinito, e nunca estivemos tão presos ao efêmero, ao passageiro, ao transitório, àquilo que não gera relações humanas, valorizando demasiadamente o virtual e nos esquecendo do real, da dor, das misérias, da pobreza, da violência e das misérias morais que relativizam o belo e o sagrado e geram a cultura do descartável.
O que impede o coração humano de encontrar a felicidade? Muitas são as respostas, muitos estudos são apresentados diariamente nos meios de comunicação. Buscam-se explicações psicológicas, sociais, econômicas, políticas, entre outras. Mas são poucos os que chegam ao fundo do problema. A verdadeira e plena felicidade só será alcançada quando passarmos pela via quaresmal, caminho de purificação e penitência, que nos liberta, por meio da graça, dos grilhões do pecado.
O pecado é o maior obstáculo. Infelizmente, estamos imersos numa cultura que o comercializa. O mais triste é que, ao buscar a felicidade, a humanidade parece afundar-se cada vez mais no lodo e morre sufocada pelo veneno do pecado, que destrói almas e sonhos. E é a própria sociedade que promove esse tipo de vida, se questiona dos porquês dessas realidades que contaminam o orbe sem se importar com as condições econômicas ou sociais das pessoas.
A maior alienação é a incapacidade de perceber o quanto o ser humano se quebra quando se entrega ao pecado. Existe uma desintegração espiritual que se manifesta na sociedade e prolifera em estruturas. Ele nasce pessoal e, em proporção com a matéria, gravidade e circunstâncias, gera o mal social.
O reconhecimento de nossas misérias e fraquezas diárias é o primeiro passo para o encontro profundo consigo mesmo e com Deus. O pecado é a desintegração da nossa natureza e aliena nossa vida da realidade eterna a qual todos nós somos chamados. A penitência não é masoquismo, mas reconhecer de modo concreto e visível a nossa indigência e necessidade. Ela nos coloca no caminho do perdão, que é o resgate da unidade perdida pelo mal. O salmo penitencial 51(50) exclama, com beleza poética, o drama do pecado e a recuperação do Rei Davi. A primeira coisa que o pecado ataca é nossa consciência, ou seja, a capacidade de perceber e distinguir o mal e o bem. O Rei Davi possui a graça de ter um grande amigo, o profeta Natã. Este, sem medo das consequências e guiado pela força do Espirito Santo, o [Davi] acusa do seu pecado. A paz e a felicidade voltam ao rosto do rei de Israel apenas quando ele reconhece e deseja reparar o mal cometido.
O pecado nos coloca no sono mais profundo e nos impede de encontrar a paz que deve reinar em nossas vidas. Só por intermédio da paz, que nasce do encontro com Cristo misericordioso, ao nos arrependermos, poderemos encontrar a felicidade. Os verdadeiros amigos são aqueles que nos ajudam a despertar e a ver a realidade em toda sua complexidade, como fez Natã com Davi. Eles são capazes disso não porque sabem mais ou são mais capacitados, mas, sim, porque nos amam. Como está escrito em Eclesiástico: “O amigo fiel é poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro” (Eclo 6,14).
A crise de felicidade está proporcionalmente relacionada com uma crise de amizade. Poucos encontram verdadeiros amigos. Muitas vezes, não sabemos ser bons amigos. Neste clima de preparação para a Jornada Mundial da Juventude, que será sediada na cidade do Rio de Janeiro, conclamo ao jovem: desperte com o encontro com Cristo, o dom da amizade. Não se pode ser cristão sozinho. Jovem evangeliza jovem. Com razão impacta, positivamente, milhões de pessoas a participação nas Jornadas Mundiais da Juventude, no encontro com Cristo juntamente com o Santo Padre o Papa. Nessas jornadas, os jovens descobrem que a amizade já existe entre eles, pois todos possuem em comum o grande Amigo Jesus Cristo, Aquele que nunca nos abandona.
Dizem que hoje as pessoas não querem se relacionar, desejam apenas se “conectar”, pois é mais fácil colocar o outro em “off”. O medo de criar laços sólidos brota, em muitos casos, da incerteza do amor. O pecado apaga de nossas vidas a certeza de que é possível amar. A fragmentação de nosso ser, oriunda do pecado, nos impede de confiar no outro.
Assim, neste importante tempo de Quaresma despertemos novamente o nosso desejo de felicidade. Purifiquemos nossas almas do pecado, que obstaculiza o encontro com Cristo, Amigo capaz de nos guiar com passos seguros. Como o Rei Davi, peçamos a Deus piedade por nossos pecados. Não tenhamos medo de reconhecer nossas transgressões.
Deus conhece nosso ser, ama a verdade e nos ensina a sabedoria. Ele nos dá a felicidade, o júbilo e nos purifica de todas as iniquidades, fazendo-nos “mais brancos do que a neve”. Sobretudo, Deus cria em cada um de nós um coração novo com a ajuda da penitência e do perdão sacramental. A via quaresmal, bem vivida, despertará em nós um espírito firme e devolverá o júbilo da salvação (cf. Sal 51).
Que nesta Quaresma tenhamos a coragem de fazer uma passagem profunda de purificação do pecado para a graça, no caminho bonito do itinerário do seguimento e discipulado do Redentor!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Sábado Santo


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A descida do Senhor à mansão dos mortos

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.
Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.
O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: "O meu Senhor está no meio de nós". E Cristo respondeu a Adão: "E com teu espírito". E tomando-o pela mão, disse: "Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará".
Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti por aqueles que nascerem de ti, agora digo, que com todo o meu poder, ordeno aos que estava na prisão: 'Sai!'; e aos que jaziam na trevas. 'Vinde para a luz!'; E aos entorpecidos: 'Levantai-vos!'
Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu Filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci a terra e foi até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixastes o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus, e num jardim crucificado.
Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.
Vê minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar dos teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à arvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendes suas mãos para a árvore do paraíso.
Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.
Levante-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso, mas no trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constitui anjos que, como servos, te guardassem, ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.
Está preparado o trono dos querubins prontos e a postos os mensageiros, construídos o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos, adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o Reino dos Céus preparado para ti desde toda a eternidade".